Como Reportar e Rastrear Bugs com Eficiência: Guia Profissional para QAs e Desenvolvedores

Fala, pessoal! Você já encontrou um erro no sistema e ficou na dúvida de como explicar isso para o time de forma clara e útil? Este artigo é pra você!

Saber criar um bom relatório de bug é tão importante quanto saber encontrá-lo. Afinal, um bug mal reportado pode atrasar a correção, gerar retrabalho ou até mesmo passar despercebido para produção.

Neste artigo, vou te mostrar como criar um bom bug report, com todos os detalhes necessários para ajudar a equipe de desenvolvimento a entender e resolver o problema da forma mais rápida possível.

Nele vou abordar a estrutura ideal de um bug report, vou também trazer exemplos reais, ferramentas úteis e boas práticas para garantir clareza na comunicação entre analistas de qualidade (QAs), desenvolvedores e demais envolvidos.

O conteúdo é direcionado a profissionais iniciantes e experientes que desejam fortalecer o processo de verificação e correção de falhas em sistemas computacionais.

Introdução

No contexto do desenvolvimento de software, erros são inevitáveis. Independentemente da linguagem, framework ou metodologia utilizada, problemas de funcionamento podem surgir em qualquer etapa. Por isso, identificar, relatar e rastrear esses erros — conhecidos como bugs — é uma das tarefas mais críticas na engenharia de software.

Para que a correção ocorra de forma rápida e eficaz, é necessário que os bugs sejam reportados com clareza, evidências e contexto suficiente. Quando mal documentados, esses erros podem gerar confusões, atrasos e até mesmo reincidência em produção.

Antes disso, vamos entender o que são bugs e por que é essencial tratá-los com seriedade.

Conceito: O que é um “bug”?

Na engenharia de software, um bug é qualquer comportamento inesperado, falha ou defeito que impede um sistema de funcionar conforme o especificado. Pode estar relacionado a erros de lógica, falhas de interface, vulnerabilidades de segurança, entre outros fatores.

De acordo com o Glossário do ISTQB, um bug (também chamado de “defeito”) é:

“Uma imperfeição ou deficiência em um produto de trabalho que não atende aos seus requisitos ou especificações ou prejudica seu uso pretendido.” — (ISTQB Glossary, 2025)

A origem do termo “bug”

O termo “bug” remonta à década de 1940, quando a cientista da computação Grace Hopper registrou a ocorrência de um erro em um computador Harvard Mark II causado por uma mariposa presa nos relés. Ela literalmente colou o inseto em seu diário de bordo e descreveu:

Grace Hopper e o computador Harvard Mark II

Grace Hopper na Remington-Rand Univac, trabalhando no desenvolvimento da linguagem de programação COBOL.

“First actual case of bug being found.” (Hopper, 1947). Escrito no diário de Grace Hopper.

Apesar de já ser utilizado em engenharia anteriormente, o episódio se popularizou como o marco simbólico do termo na computação.

Com o aumento da complexidade dos sistemas, o impacto de bugs também cresceu — e, com isso, cresceu também a importância da validação e controle de qualidade. Pressman (2010) destaca que a verificação sistemática de software, feita por meio de testes e análises, é fundamental para garantir a conformidade com os requisitos funcionais e não funcionais. Pressman defende que a criação de artefatos como casos de teste e relatórios de defeitos deve ser tratada como parte essencial do processo de engenharia de software, e não apenas como um complemento do processo de desenvolvimento.

Surgiu assim a necessidade de um papel específico dentro das equipes para lidar com testes e validação: o Analista de QA.

A importância do QA no controle de bugs

O QA (Quality Assurance) é responsável por garantir que o sistema atenda aos requisitos de negócio e técnicos. Entre suas responsabilidades está a criação de planos de testes, execução de casos de teste, análise de resultados e, principalmente, o reporte de falhas identificadas.

Portanto, reportar bugs com clareza não é apenas uma formalidade — é parte essencial do ciclo de desenvolvimento de software moderno.

Por que saber reportar bugs é essencial?

Quando você encontra um erro, a forma como você o comunica pode facilitar (ou dificultar) toda a correção.

Um bom bug report:

  • Ajuda a equipe de desenvolvimento a reproduzir o problema com exatidão;
  • Garante rastreabilidade e histórico das correções;
  • Evita retrabalho e mal-entendidos;
  • Melhora a comunicação entre QAs, devs, POs e stakeholders.

Como estruturar um bom Bug Report. O que não pode faltar?

Segundo o IEEE 829 (2008) — um dos principais padrões internacionais de documentação de testes —, os relatórios de defeitos e os planos de teste devem conter informações detalhadas sobre o ambiente de execução, dados de entrada, resultados esperados e reais, além de critérios de severidade e prioridade. Esse padrão serve como base para a elaboração de relatórios técnicos e rastreáveis no ciclo de vida de testes.

Um bom relatório de bug deve ser completo, objetivo e reprodutível. Isso garante que qualquer membro da equipe possa compreender e reproduzir o problema rapidamente. Esses são os elementos essenciais para um relatório de bug:

Um bom relatório de bug deve ser completo, objetivo e reprodutível. Isso garante que qualquer membro da equipe possa compreender e reproduzir o problema rapidamente. Esses são os elementos essenciais para um relatório de bug:

1. Título claro e objetivo

  • Exemplo ruim: “Erro no sistema”.
  • Exemplo bom: “[Checkout] Ao clicar em ‘Finalizar’, o sistema retorna erro 500”.

2. Descrição detalhada do problema

Explique o que está acontecendo, o contexto, e por que isso é um problema.

3. Ambiente de teste

Indique onde o erro foi encontrado. Ex: Navegador (Chrome 114), sistema operacional, ambiente (homologação/produção).

4. Passos para reproduzir o bug

Liste passo a passo o que foi feito até o erro ocorrer. Isso ajuda qualquer desenvolvedor a reproduzir.

5. Resultado esperado vs. resultado atual

O que deveria acontecer? O que realmente aconteceu?

6. Evidências

Inclua prints de tela, vídeos curtos, logs ou mensagens de erro.

7. Severidade e Prioridade

Classifique o impacto (severidade) e urgência da correção (prioridade).

8. Status

Status de: (Aberto, Em progresso, Resolvido).

Ciclo de Vida de um Bug: Etapas e Classificações

Após identificar e documentar um defeito, ele passa por diversas etapas até sua resolução final. Esse caminho é conhecido como ciclo de vida do bug (bug life cycle), e é essencial para manter a rastreabilidade e a comunicação entre as equipes de QA, desenvolvimento e gestão (IEEE 829, 1998).

A seguir, as etapas mais comuns desse ciclo:

  1. Novo (New) – O bug é reportado pelo QA ou outro membro da equipe e registrado no sistema de gestão (como Jira, Azure DevOps, etc.).
  2. Atribuído (Assigned) – O bug é designado a um desenvolvedor para análise e correção.
  3. Aberto (Open) – O desenvolvedor reconhece o problema e inicia a correção.
  4. Em Andamento (In Progress) – O defeito está sendo ativamente corrigido.
  5. Corrigido (Fixed) – A correção foi aplicada e está pronta para ser testada novamente.
  6. Verificado (Verified) – O QA reexecuta o caso de teste para confirmar se o problema foi resolvido.
  7. Fechado (Closed) – A correção foi validada com sucesso e o bug é encerrado.
  8. Reaberto (Reopened) – Se o erro persistir ou se outro problema relacionado for encontrado, o bug pode ser reaberto e volta a passar pelas etapas anteriores (Pressman, 2010).

Esse processo pode variar de acordo com a metodologia usada (ágeis ou tradicionais), mas o objetivo principal é garantir a visibilidade e controle sobre o tratamento dos defeitos.

Gravidade vs. Prioridade: Entendendo a Diferença

Durante a triagem de bugs, dois atributos fundamentais são analisados: gravidade e prioridade. Embora frequentemente confundidos, seus significados são distintos:

  • Gravidade (Severity): Refere-se ao impacto técnico do defeito na funcionalidade ou na experiência do usuário. Um erro que causa perda de dados, por exemplo, tem gravidade alta.
  • Prioridade (Priority): Representa a urgência do conserto, geralmente decidida com base nas necessidades do negócio. Um bug crítico que afeta todos os usuários em produção terá alta prioridade.

Essa distinção é essencial para evitar gargalos e garantir que os bugs mais críticos sejam tratados no momento certo (ISTQB Glossary, 2025).

Exemplo prático
Gravidade
Prioridade
Ortografia errada no rodapé
Baixa
Baixa
Crash ao finalizar compra
Alta
Alta
Imagem desalinhada no mobile
Média
Falha em botão não utilizado
Alta
Baixa

Exemplo Prático — Bug Report

Para ilustrar, aqui está um exemplo baseado na plataforma Swag Labs, um ambiente de demonstração usado para treinar QAs.

Produto não é adicionado ao carrinho​
Título
[Carrinho] Produto não é adicionado ao carrinho após clicar em “Add to cart”.
Ambiente
Chrome 124 / Windows 10 / Ambiente de Homologação.
Descrição
Ao tentar adicionar qualquer produto ao carrinho, o botão “Add to cart” muda para “Remove”, mas o ícone do carrinho permanece zerado.
Passos para reproduzir
1. Acesse https://www.saucedemo.com; 2. Faça login com usuário "error_user"; 3. Clique em “Add to cart” no terceiro, quarto e sexto item; 4. Verifique o contador do carrinho: 4.1 Resultado esperado: Carrinho deve exibir “3” itens; 4.2 Resultado atual: Carrinho continua com vazio; 4.3 Evidência: Imagem em anexo (bug-report-2025-03-07.webp); 4.4 Severidade: Média; 4.5 Prioridade: Alta.
Status
Aberto.
Anexo
bug-report-2025-03-07.webp

Ferramentas para rastrear e organizar bugs

  • Jira (amplamente usado em squads ágeis);
  • Trello (simples e visual);
  • YouTrack (mais técnico e poderoso);
  • Notion (ótimo para equipes menores ou mais flexíveis);
  • TestLink / TestRail (mais focados em testes).

Escolha a ferramenta de acordo com o tamanho do time e o fluxo de trabalho do projeto. O importante é garantir que todos tenham visibilidade.

Boas Práticas

  • Escreva como se a pessoa lendo não soubesse nada sobre o sistema.
  • Evite termos vagos como “aconteceu um erro” ou “deu problema”.
  • Revise antes de enviar: seu bug report também é uma forma de documentação.
  • Use uma linguagem neutra, sem apontar culpados. Foque no comportamento do sistema.

Conclusão

Saber testar é importante. Mas saber reportar também é. A identificação e o reporte de bugs são parte essencial da garantia da qualidade de um software. Um bug bem reportado é meio caminho andado para sua correção.

Saber comunicar com clareza o que está errado, como foi identificado e qual o impacto da falha melhora a colaboração entre os times e acelera a entrega de sistemas mais seguros e confiáveis. Um bug bem descrito economiza tempo, reduz retrabalho e fortalece a colaboração entre todas as áreas envolvidas. Não importa se você é QA, Dev ou PO — entender a estrutura de um bom bug report é essencial para garantir entregas mais seguras e eficientes.

O profissional que domina a arte de reportar bugs não apenas ajuda o projeto — ele fortalece todo o ciclo de desenvolvimento.

Referências

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Davi Teixeira

Mestrando, Analista de Testes/QA e Desenvolvedor Web.

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QA e Desenvolvedor Web | Graduado em Sistemas de Informação

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